Em agosto de 2022, de Belo Horizonte a Ipatinga, situada no Vale do Aço, região Leste de Minas Gerais, gastamos 4h30 para percorrer os seus 217 quilômetros em uma Hilux, em boas condições de tráfego. Na década de 1980, gastávamos 2h30 em um automóvel Brasília. Aumentou-se a potência do carro e mesmo assim o tempo de viagem aumentou em 87% em uma regrinha de três simples que não fecha.
É inacreditável!
Esse trecho é parte da BR-381, uma das principais artérias rodoviárias de nosso país, ligação dos estados brasileiros do Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo. Conhecida como Rodovia da Morte, registrou o maior número de acidentes em 2021, quando foram contabilizados 2.054 acidentes com vítimas.
Com raras exceções, as precárias condições de nossas rodovias são o retrato dos desafios diários que os transportadores rodoviários de carga deste país encaram para garantir o abastecimento e para gerar empregos e lucros.
Todo o tempo gasto a mais em um percurso implica no Custo Brasil. Dados da última Pesquisa CNT de Rodovias de dezembro de 2021 indicam que 44,3% das nossas rodovias sob concessão apresentam algum tipo de irregularidade, o que ocasiona um aumento de 16% nos custos operacionais do transporte rodoviário de cargas para seus usuários. Já nas rodovias sob administração pública 73,0% delas mostraram irregularidades, o que acarreta um acréscimo estimado de 35,2% nos custos operacionais.
Em Minas Gerais, a Confederação Nacional do Transporte (CNT) pesquisou 15.259 km de rodovias. Considerando seu estado geral, apenas 4,4% foram considerados ótimos; 25,7% bons; 39,4% regulares; 25,3% ruins e 5,2% péssimos.
Todos sabemos que os investimentos em infraestrutura de transportes são considerados fundamentais para promover desenvolvimento econômico, repercutindo potencialmente na redução dos custos de transporte. Isso significa ganhos em bem-estar associados a redução de preços, a maior mobilidade de trabalhadores e a maior competitividade. Todos ganham.
No entanto, os investimentos em infraestrutura de transportes no Brasil têm caído sistematicamente nos últimos anos. Um investimento anual que já chegou a cerca de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) na década de 70 obteve entre 2001 e 2020 a média de 0,3%.
Considerando o investimento do governo federal determinado pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (LOAS) em infraestrutura para o transporte, houve uma nova queda, passando de R$ 8,69 bilhões em 2021 para R$ 8,58 bilhões em 2022. Estudos indicam que, para reequipar e modernizar todo o sistema, seriam necessários inversões da ordem de 2,5% do PIB mantidos ao longo de duas décadas.
Diante desse cenário e da realidade de que somos responsáveis pela movimentação de mais de 60% de tudo que se consome neste país, reafirmamos a urgência de se investir em infraestrutura de transportes nos níveis federal e estadual.
Os modelos de parcerias entre os investimentos públicos e privados, as concessões pedagiadas a preços módicos, têm se mostrado em diversas partes do mundo e mesmo no Brasil como boas opções para resolver os problemas de infraestrutura de transportes.
É mais que hora de duplicar a BR-381 no seu trecho Leste de ligação entre Belo Horizonte e Governador Valadares e de realizar as obras do Rodoanel do entorno Região Metropolitana de Belo Horizonte. Tais mudanças vão diminuir o custo logístico e oferecer mais proteção e segurança para todos que passam por Minas Gerais.
Os processos de concessão aos poucos estão caminhando. Nossa expectativa é de que a concessão do Rodoanel, que já obteve aprovação em leilão da empresa responsável, tenha celeridade, assim como a da BR-381.
O Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística de Minas Gerais (Setcemg) segue firme em sua atuação colaborativa e vigilante em defesa dos interesses dos transportadores.
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¹ Relatório Acidentes Rodoviários da CNT.
² Radar da CNT de Transporte – Orçamento Federal 2022.
³ BRAGANÇA, Arthur; ASSUNÇÃO, Juliano J.; ARAUJO, Rafael; MAGALHÃES, Manuela. Infraestrutura de transporte e emprego: uma abordagem de acesso a mercado. Rio de Janeiro: Climate Policy Initiative, 2022.
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